28 de set. de 2012

Um sonho triste

Segue abaixo mais um trabalho de nosso colega Orlando Aires da Nóbrega, poeta ameriliense:



Um sonho triste

Outro dia eu deitei para dormir
E sonhei com um mundo diferente
Onde um anjo parava em minha frente
E falava que eu tinha que lhe ouvir
Sem achar outro jeito pra sair
Eu tentei, porém ele insistia,
Em falar; no momento ele dizia
Que o desgosto existente era profundo
E as coisas erradas deste mundo
São assim por falta de poesia.

Esse povo aqui que agente vê
‘Tá pedindo socorro para alguém
Pede a Deus um poeta, que não vem;
Esse alguém que lhe possa socorrer
E, se demora, uma parte vai morrer,
Sem consolo, sem paz e sem guarida,
Esperança de outrora já perdida
Sem encanto, sem canto, sem magia,
Sem o aroma que exala a poesia
Nem que viva esse mundo, não tem vida. 

E ali eu fiquei observando
Já não via encanto nem beleza
Percebi que até a natureza,
De tristeza, também estava chorando,
Igual a uma criança lamentando
E pedindo ao mundo, por favor,
Que conserve a memória do autor
Que pra alma da gente faz tão bem
Se deixarmos morrer, morre também,
A feição das lembranças do amor.

Outra coisa me chamou a atenção
Quando se aproximava a noitinha
No meu íntimo que ia e depois vinha
Um desejo de ouvir uma canção
Dessas que nos alegra o coração
E deixa a alma tranquila, inquieta,
Porém algo me veio como u’a seta
Numa frase bastante inconfundível
Quando o anjo me disse: é impossível
Nesse mundo por falta de um poeta.

Eu não vi nem sequer um passarinho
Que pudesse cantar uma canção
A verdade é que o meu coração
Lamentava à beira de um caminho
Onde o seu dono trilhava sozinho
Por veredas sem saber aonde ia
Sem a bússola da vida não sabia
Se ficava parado ou ia em frente
O espírito poético está doente
Em um mundo que não tem poesia.

Quem irá recitar pros namorados
Numa noite de lua sem seresta?
E quem irá fazer parte de uma festa
Sem citar os casais apaixonados?
Sem lirismo estamos condenados!  
A sofrer nessa vida, e vou além,
Não se arrisque querendo viver sem
E por fim esse anjo me dizia
Se deixarmos morrer a poesia
Com certeza o amor, morre também.



Leia também "Os sentimentos humanos" de Orlando Aires da Nóbrega.


23 de set. de 2012

"Contos Reunidos" na 22ª Bienal de São Paulo




No domingo, 19 de agosto de 2012, foi realizado o lançamento do livro "Contos Reunidos", do Grupo da Rua Três, na 22ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, pela editora Scortecci.

O Grupo da Rua Três e seu editor, João Scortecci

O evento, além de parte integrante da excursão da Produção Literária à bienal, marcou o début de muitos dos alunos da turma de 2011 no mercado editorial; estes, que reuniram-se no grupo literário batizado de Grupo da Rua Três.

Na ocasião o Grupo conversou com o público, autografou exemplares do livro e teve também a oportunidade de entrar em contato com escritores de outras cidades, trocando ideias e experiências de grande valor.


15 de set. de 2012

"Contos Reunidos" na net

O lançamento dos "Contos Reunidos" foi noticiado nos portais de notícias Araraquara.com, SIM NewsK3 e Sua Cidade.
Confira as matérias!

NOTA: as viagens à 9ª e à 10ª FLIP e ao III Congresso Brasileiro de Escritores aconteceram, é claro, antes do lançamento na 22ª Bienal Internacional de São Paulo.

12 de set. de 2012

Grupo da Rua Três n'O Imparcial

Leiam na página 18 do jornal O Imparcial do dia 12 de setembro de 2012 a matéria sobre o lançamento dos "Contos Reunidos".
Só uma coisa: o evento vai começar às 10:30h, e não às 09:30h como consta.

10 de set. de 2012

Exposição "Contos Reunidos"

Começa hoje, dia 10 de setembro de 2012, a mostra "Contos Reunidos" no saguão inferior do Shopping Lupo em Araraquara.

A exposição apresenta as fotografias originais de autoria de Pâmela Lino que ilustram o livro "Contos Reunidos", do Grupo da Rua Três.Este grupo literário foi formado em abril deste ano a partir da reunião dos participantes da turma de 2011 da Produção Literária e o livro é sua primeira publicação.
O livro será lançado no próximo sábado, dia 15 de setembro, a partir das 10:30h na Livraria Nobel.

A exposição é composta por 16 painéis em que são apresentados o Livro, o Grupo, o Curso, os Autores, os Contos, diversos extras, "making of" da produção tanto das fotografias quanto dos contos propriamente ditos e imagens do lançamento na 22ª Bienal do Livro de São Paulo.

São membros do Grupo da Rua Três:

Carlos A. S. Roza
W. Augusto Marcolino
Yvone Salete Z. da Silva
Lucas Alexandre de Carvalho Dias
Richard Montezino
Victor Costa
Sônia Cassoli
Assis Furtado
Pâmela Lino



A mostra permanecerá exposta até o próximo domingo, 16 de setembro, e a entrada é gratuita.



Exposição "Contos Reunidos"
Saguão inferior do Shopping Lupo
Rua Gonçalves Dias 543
Horário: 2ª-Sáb 10-22h, Dom 11-22h
Entrada gratuita
www.shoppinglupo.com.br



Venha para o lançamento!


8 de set. de 2012

Encontro com Escritores: Luiz Ruffato e Ana Mariano



A Produção Literária esteve na última segunda-feira, 03 de setembro, no Encontro com Escritores promovido pela Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo na Biblioteca Pública Municipal "Mário de Andrade". Na ocasião, Luiz Ruffato e Ana Mariano, finalistas do Prêmio São Paulo de Literatura 2012, falaram sobre suas obras e - o que mais ainda nos interessou - seus processos criativos.

Ruffato contou, numa inicialmente tímida terceira pessoa, sobre a importância de Araraquara em sua carreira literária. Foi cá que ele recebeu seu primeiro prêmio literário, entregue por Ignácio de Loyola Brandão em pessoa. O jovem autor teria partido de trem de Cataguases (MG), sua cidade natal, pensando que alcançaria tranquilamente o nosso burgo. Para seu infortúnio, a linha férrea terminava em Poços de Caldas (MG), a alguns quilômetros antes de cruzar a divisa SP/MG, e ele teve que vir de carona para receber seu prêmio. Não perguntamos se o Ignácio o levou na mercearia do Freitas em Bueno de Andrada, mas é muito provável que sim.

Ana Mariano, portalegrense da mais forte tradição literária gaúcha, contou-nos sobre seus cinco anos de trabalhos debruçados sobre o livro Atado de ervas: os mínimos detalhes pesquisados, como as condições climáticas em determinada data ou mesmo as doenças que afetavam o gado - tudo isso Ana usou para enriquecer sua obra. O que ela compartilhou na ocasião foi de grande importância, tão ou mais enriquecedora, para os presentes: ela repetiu o coro que sempre repetimos, que escrever é um ofício de dedicação que deve ser exercido dia após dia, com disciplina e assiduidade. Completamos, parafraseando Carlos Drummond de Andrade, que engana-se quem pensa que só porque teve um acesso de inspiração momentânea pode chamar-se de escritor. Transpirar é preciso!

Segue abaixo um poema de Ana Mariano, de seu livro Olhos de Cadela (L&PM Editores, 2006), que acreditamos bastante representativo de sua força poética:


Náufraga
Ana Mariano

Era estátua de sal a mulher na areia.
Abrigo vazio com braços de abraços,
o rosto enredado em vigília de espera.

Na garganta estendida, um nó apertado.
Dois olhos castanhos tateando a maré.
O que lhes faltava?
Faróis incompletos, brilhavam, apagavam,
à espreita do mar.

Partida de barco, silêncio de peixe,
angústia de prece vagueando no ar.

E a chama da garça dançando na névoa,
tecido de renda que o tempo do tempo,
ao jeito do vento,
tecia no mar.


O Prêmio São Paulo de Literatura agracia autores em duas categorias, "Melhor Livro do Ano" e "Melhor Livro - Autor Estreante do Ano", com R$ 200.00,00. É de longe o maior (e melhor) prêmio literário do Brasil. Domingos sem Deus, de Luiz Ruffato, concorre ao prêmio de melhor livro do ano, enquanto o supracitado Atado de Ervas, da poetisa Ana Mariano, concorre ao melhor livro de autor estreante, por ser este livro sua estreia como romancista.


A Produção Literária, alunos e professores, deseja boa sorte a ambos os autores e agradece a simpatia e a cordialidade com que foi recebida e atendida em suas questões várias.


Leia a matéria no site da Secretaria de Estado da Cultura, no site 
Araraquara.com, no SimNews, no portal K3, no portal G1 e no site da EPTV.

7 de set. de 2012

Dois momentos


Segue abaixo o conto de nosso colega Elias Araújo, premiado no XX Concurso de Poesia e Prosa da Academia de Letras de São João da Boa Vista. Nossos parabéns por mais essa conquista!

Dois momentos
Elias Araújo

Primeiro
A primeira vez que Virgínia Lênis viu seu noivo foi no dia do casamento. Ela tinha 13 anos e a alegria de uma borboleta recém-saída do casulo. Corria pelo sítio alimentando o vento da primavera com seu vestido de chita barata e com seus cabelos longos de menina livre. Brincava de pega-pega com os primos menores, sorridente como o sol da manhã, ao ouvir o tropel dos cavalos passando pela porteira. Os primos e primas saíram correndo para encontrar os pais gritando euforicamente.
Ela pensou em se esconder entre as plantas do sítio, mas a mãe pareceu adivinhar suas intenções que desonrariam o pai naquele fim de mundo.
— Virgínia. — gritou a mãe. — Vem cá, teu pai tá chegando com teu noivo.
— Mas eu não quero casar agora, mãe. — disse ela, agarrando-se à cintura da mulher. — Eu só quero brincar mais um pouco.
A mãe fez um muxoxo, o mesmo que o destino a obrigava a fazer de vez em quando ao vencer a batalha. E levou-a para dentro, enquanto suas irmãs, cunhadas e tias preparavam a casa e a festa para os homens.
Virgínia deixou-se ser lavada, vestida, penteada. E levada para a tarde florida e ensolarada do seu casamento. Quando olhou para os homens na sala, todos vestidos com roupas de missa, não viu a menor diferença de idade entre eles, a não ser o Zé Joaquim, um primo que mal chegava aos 17 anos e que a olhava como uma criança olha um doce na vitrine da confeitaria e não pode ter. Trocaram olhares de imploração e inércia de um e de outro. E de tristeza em comum.
No fundo da sala o padre a esperava atrás de um altar com tudo improvisado: uma toalha de renda, algumas flores, um livro e um noivo vestido de marrom e enfeitado com um bigode espesso. Ele não tinha boca, como ela percebeu, apenas o bigode. Então talvez nem precisasse beijá-lo.
Duas semanas antes de viajar, o pai dissera:
— Virgínia, venha cá, moleca do cão! Lembra do sinhô Pedroso, que nóis conheceu na quermesse ano passado? Então, fia, ele enviuvou mês passado e se alembrou d’ocê. Tá querendo ocê pra casar e como ocê tá mocinha já, e aqui no sítio tem seus primo que pode lhe fazer mar, dei permissão pra ele casar c’ocê quando nóis vortar de viagem.
Não, ela não tinha conhecido o homem, porque na quermesse ficara muito doente, ardendo em febre e só lembrava-se de ter ficado em uma casa de uma tal de sinhá Amália Pedroso, que cuidou dela muito bem. E mais nada.
Então aquele homem sem boca era o viúvo dela?
— Senhor Otávio Pedroso, aceita Virgínia Lênis como sua legítima esposa?
— Claro, foi pra isso que eu vim, uai!
— Virgínia Lênis, você aceita Otávio Pedroso como seu legítimo esposo?
Ela ficou muda. Olhou para a mãe e sentiu vontade de ser carregada no colo.
— Não... — sussurrou como passarinho com espinho na garganta.
— Deixa de ser besta, menina! — gritou o pai. — Claro que aceita, padre, aceita!
O padre insistiu na pergunta, esperou, esperou.
— Sim...

*                                              *                                             *

Segundo
A segunda vez que Virgínia Lênis viu seu noivo foi no dia do velório do marido. Sinhô Pedroso — como ela o chamara durante toda a vida conjugal — tinha morrido de madrugada. E ela dividira os ouvidos entre o vento desesperado por entrar na janela e os gemidos do velho.
Ela nunca soube como ele conseguia falar, gritar, comer ou gemer ou até mesmo resfolegar nas noites em que a cobria com sua manta de ossos. Porque nunca conseguira ver a boca dele atrás daquele imenso bigode, o que lhe dava uma aparência rude, talvez mesmo violenta. Entretanto, a violência nunca brotara daquele homem magro. Ao contrário, Virgínia nunca teve do que reclamar, era bem tratada, bem cuidada. Vigiada também, já que uma esposa menina bonita 40 anos mais jovem era motivo de preocupação para um pequeno fazendeiro que viajava muito a negócios.
Dos pequenos pecados que cometera até aquele momento, Virgínia só confessava ao padre a dor de nunca ter amado o marido. Talvez ele até merecesse, mas nunca conseguiu enxergá-lo de uma forma diversa daquele homem que fora buscá-la ainda descalça no sítio da família. Tudo o que fez foi lhe dar três filhos e esperar que morresse de velhice.
Infelizmente a velhice chegou, mas a morte não. Otávio Pedroso custou muito a morrer. Relutava. Insistia tanto que ela achou que a Morte tinha desistido de tentar levá-lo. Mas Ela não era entidade de desistir tão fácil dos seus pertences, Virgínia bem o sabia e resolveu ter mais paciência do que vinha tendo. Até que na última madrugada abriu o sorriso para a Morte entrar como velha amiga.
Sinhô Pedroso ainda lutou bravamente durante a madrugada. Agarrou a mão de Virgínia, gorgolejou, sacudiu-se inteiro na cama, tentou levantar. Agarrou o pescoço da mulher, como a querer levá-la junto. E realmente queria. O sussurro gutural transmitiu a Virgínia mais pavor do que nos longos anos de casamento.
— Virgíniaaa! Me ajuda, minha menina. Eu não querooooo... não quero... morrer.
— Já passou da hora, Sinhô Pedroso. — disse ela com tanta naturalidade que o marido sorriu, enquanto segurava fortemente sua mão. — Vá com Deus, Sinhô.
Ele teve um último espasmo, como alguém que morre afogado e tenta emergir antes do mergulho fatal. Depois se aquietou e morreu com olhos abertos em direção à chama da velha lamparina. Virgínia soltou sua mão delicadamente e juntou as deles sobre o peito magro. Depois calmamente fechou-lhe os olhos. Ficou um tempo assim, olhando para o rosto dele, até que a tomou uma curiosidade mórbida.
Cuidadosamente, para não machucá-lo, ela ergueu-lhe o farto bigode. E sorriu. Pela primeira vez depois de 40 anos Virgínia viu os lábios finos e inexpressivos do marido. Então, ela virou para o lado, cobriu-se e dormiu até o amanhecer.
— Que Deus me perdoe, mas tá muito cedo pra levantar.
Mais tarde, quando todos chegaram para o velório, ela já estava sentada ao lado do caixão posto no centro da grande sala de visitas da casa grande. As mulheres abraçaram-na e beijaram-na. Os homens apertaram-lhe a mão respeitosamente. Os irmãos ofereceram-lhe ajuda para cuidar da fazenda. Os filhos vieram da cidade, mas avisaram que não podiam ficar muito tempo e se a mãe quisesse vender tudo e ir morar com um deles...
— Não. Vou arrumar alguém pra cuidar da fazenda.
Disseram depois as más línguas que ele já vinha visitando a fazenda na ausência de Sinhô Pedroso, porque ela o reconheceu assim que entrou no velório. Zé Joaquim caminhou lentamente até ela, pegou-lhe a mão e ajudou-a a levantar. Abraçou-a respeitosamente sob o olhar espantado de todos os homens da sala, porque nenhum deles tinha ousado tanto.
Trocaram olhares de surpresa e alegria em comum. E tiveram pensamentos iguais, como se dissessem ao mesmo tempo como estavam ainda bonitos mesmo depois dos 50 anos.
Ela resolveu que alguns meses de luto eram suficientes para amenizar a dor de ter ficado viúva e sozinha. E como o primo Zé Joaquim também estava viúvo e sozinho, com todos os filhos casados, ambos se resolveram. Para deleite das más línguas.
A pequena igreja da cidade não comportou a família que havia crescido muito nos últimos anos em que ela ficara confinada ao casamento.
— José Joaquim de Lênis, você aceita Virgínia Lênis como sua legítima esposa?
— Sim, claro.
— Virgínia Lênis, você aceita José Joaquim de Lênis como seu legítimo esposo?
— Agora que eu não posso brincar mais um pouco, sim, aceito, sim. 

6 de set. de 2012

'O Escritor tem Poder'

Segue abaixo a transcrição da entrevista com Ignácio de Loyola Brandão, publicada na Tribuna Impressa do dia 25 de julho de 2012.

'O Escritor tem Poder'
Ignácio de Loyola Brandão aconselha novos escritores a pensarem apenas na qualidade de suas obras e não no dinheiro
por Matheus Vieira
ilustração de Lucas

Matheus Vieira - Qual o prazer que você sente, Ignácio, por trabalhar com as letras?
Ignácio de Loyola Brandão - Um prazer sensual. Além daquele prazer que todos conhecemos (coitados dos que não conhecem) existe o de soltar a fantasia, inventar mundos e pessoas, criar paixões, furacões, gente boa e ruim, megeras, santas, virgens ou não. O escritor tem poder. Poder de transitar por onde quer, dentro de sua imaginação.

Matheus Vieira - Qual é a realidade do mercado brasileiro para os escritores?
Loyola - Igual ao de 20, 30, ou mesmo 50 anos atrás. Apenas meia dúzia consegue sobreviver da venda de livros. Os outros têm um ofício paralelo que garante a "sobrevivência". Mas escrevemos pela paixão e pelo sonho, pela compulsão e necessidade. Tem quem queira escrever por delírio, mas este precisaria descobrir a fórmula do sucesso. E esta não existe. É aleatória, imponderável.

Matheus Vieira - E quais são as suas inspirações na hora de escrever, Ignácio?
Loyola - Inspirações? A realidade à minha volta. O mundo, as pessoas, a minha constante observação, o caderninho de anotações, as conversas, a intuição, o sexto sentido, o olhar agudo, penetrante, a busca incessante.

Matheus Vieira - Algum autor de Araraquara?
Loyola - Não, nenhum autor de Araraquara me inspirou.

Matheus Vieira - Que conselho você dá para aqueles aspirantes a escritores, que sonham em viver dessa arte?
Loyola - Escrever, escrever, escrever, ler, ler, ler. E em lugar de pensar em sucesso e dinheiro e fama, pensar em escrever boas histórias, bons romances. Colocar como meta ser o maior de todos e lutar para isso. Estou cansado desses jovens (e não jovens) que me procuram dizendo: quero ser escritor e ficar famoso. Digo: desista.
Outro veio e me perguntou: Como se faz uma tarde de autógrafos? Expliquei o mecanismo. Simples: livro, livraria, autor e convidados. E ele: Quantos livros preciso vender na tarde de autógrafos? Depende de quantas pessoas apareçam. Em seguida: E como faço para editar um livro? Expliquei e perguntei: Está pronto o livro? O que é? Romance, conto, crônica? E ele: Ainda não escrevi, estou me informando, por enquanto.

Matheus Vieira - Atualmente, o senhor está trabalhando em alguma obra?
Loyola - De uma conversa com Sandra Lapeiz, da Fundação Carlos Chagas, coordenadora do programa nacional Livros Para Todos, que vai este ano levar bibliotecas para mais de 50 cidades brasileiras, surgiu a ideia de fazer uma série de textos em cima das músicas que me seguiram ao longo da vida e me marcaram. O livro ficou pronto.
Imagens de Araraquara e de São Paulo, de Cuba, de Roma, contos, crônicas, memórias. Um livro indefinível. Gosto de gêneros sem definição. O livro terá imagens de Paulo Melo Jr. e um CD com todas as canções citadas, cantado por Rita Gullo. Título: "Solidão no Fundo da Agulha". O título é tirado de um poema de Viviane Mosé, poeta, educador e cronista.