9 de jul. de 2013

11ª FLIP


Nossa expedição à Festa Literária Internacional de Paraty melhora a cada ano que passa. Apesar dos muitos problemas que surgiram para assombrar a organização deste ano ― como pousadas que não respondiam, prazos de reservas que se estouravam e números de integrantes que variavam ―, a Produção Literária conseguiu, pela terceira vez, realizar sua excursão anual à FLIP e retornar sã e salva para contar a história. Em sua 11ª edição, o evento ofereceu mais atividades "paralelas" que nos anos anteriores: aliás, atividades estas, que sinceramente despertaram muito mais interesse em nós do que as atividades principais. O escritor, político e jornalista alagoano Graciliano Ramos, o homenageado da vez, apareceu pouco, e talvez tenha surgido daí a sensação de que as atrações dos espaços secundários estavam mais atraentes. Mas há de se destacar o ponto sempre positivo, que é a oportunidade que os membros da expedição têm de conhecer pessoalmente os escritores, artistas e formadores de opiniões, além, é claro, de viver toda essa experiência que é o passeio propriamente dito, como participar do lançamento de um livro, assistir a um bate-papo e até mesmo cruzar com um autor no meio da rua, visitar uma exposição de arte e sentar-se à beira da praia do Pontal só para ver o mar.


Saímos de Araraquara no horário usual, alcançando Paraty na madrugada do sábado. A expedição instalou-se próximo ao Campo de Aviação, na casa de uma família paratiense, que nos recebeu com um belo café da manhã. Caminhamos então até o Centro Histórico, seguindo indicações dos locais e conhecendo o "outro lado" da cidade ― a Paraty de verdade ―, parando um pouco na Praça do Chafariz: limiar entre o universo urbano contemporâneo e o centro propriamente histórico. Na Casa Folha I, assistimos ao lançamento do livro Heidegger urgente - introdução a um novo pensar (Ed. Três Estrelas, 2013), de Oswaldo Giacoia Jr, professor de filosofia da Unicamp. Na ocasião, encontramos também o Luiz Felipe Pondé, com seu cachimbo, cuja palestra a respeito de suas pesquisas sobre Nelson Rodrigues assistimos em Poços de Caldas.

Talvez mais pelo excesso de atrações "paralelas" que pelo de gente nas filas, desta vez não recolhemos tantos autógrafos dos autores. Mal terminava a primeira parte do lançamento do professor Oswaldo Giacoia, outra explanação tinha início na Casa Folha II: o apresentador Zeca Camargo estava divulgando sua autobiografia, intitulada (provisoriamente?) Nu, a ser lançada em meio digital ainda este ano. Não sei se no caso de livros digitais poderíamos dizer que a obra está "no prelo" ― mais correto seria sugerir que ela está "no ciberespaço"? Para Nicole, filha da nossa colega Magna Nagasawa, essa foi uma experiência muito legal. "Ele fala bastante; não parou de falar! Ele tem pavor de médico!" disse ela. O mediador, por sua vez "não fez muitas perguntas", como afirmou Magna, porque "o livro dele é só sobre isso". Não que pertença ao gênero autoajuda ― "muito pelo contrário" ―, mas o que ele mais queria falar era sobre "como ele engordou e como ele tem pavor de médico". "Também tem muitos detalhes sentimentais", completou Nicole. Não foi possível conseguir autógrafos de Zeca Camargo: nem tanto porque ele deixou depressa a sua palestra, mas mais porque não tinha livros para serem autografados.

Visitamos a exposição da artista plástica Daniela Seixas na Casa Sesc e a exposição sobre Graciliano Ramos na Casa da Cultura; encontramos atores famosos na palestra do diretor Luiz Fernando Carvalho na Casa do Autor Roteirista e escutamos indignações a respeito da "outra" Paraty ― aquela que não sai nas fotografias de divulgação da FLIP, aquela que é feita substancialmente de não-ficção, aquela que fica para lá do Campo de Aviação ― sugeridas pelo escritor e colunista cearense Xico Sá outra vez na Casa Folha II. Da programação principal, assistimos parte da Mesa 13, do lado de fora da Tenda do Telão, em que Aleksandar Hemon, escritor norteamericano de origem bósnia, e Laurent Binet, escritor francês, falavam sobre como a Literatura passa a ser um reflexo dos acontecimentos históricos.


No meio da tarde, manifestações populares surpreenderam a festa literária: uma grossa coluna ― posteriormente reduzida na mídia a algumas dezenas de pessoas ― marchou levando cartazes em protesto, carregando bonecões (que por sua vez também portavam dizeres), entoando frases indignadas e sendo seguidas por uma pequena patrulha da Polícia Militar. O movimento Acorda Paraty atravessou a ponte ― fato este posteriormente traduzido na mídia como um bloqueio estrategicamente deliberado para atrapalhar a 11ª FLIP ― e seguiu marchando até a Prefeitura da cidade. Saúde, educação, dignidade, fim da corrupção e fim da impunidade eram algumas das reivindicações brasileiras que ecoavam também em Paraty este ano. Dentre elas, uma bastante interessante: a quem serve a FLIP, se nos 361 demais dias do ano o município alheia-se de educadores ou mesmo de investimentos em infraestrutura?

À noite, nossa pizza tradicional. No dia seguinte, mais uma volta no Centro Histórico pela manhã, mais um passeio pelas tendas da festa literária e o farto almoço na Cantina do André. À tarde procuramos o Caminho do Ouro: não estando a estrada trafegável para a nossa van, paramos à beira de um riacho e desfrutamos de uma horinha junto à natureza. Confesso que também escorreguei numa pedra e caí dentro do córrego. Mas ninguém fotografou meu acidente. Por fim visitamos o Alambique Paratiana.

Para Alessandra Zanasi, "Paraty tem o clima ideal para esse tipo de evento. Uma cidade encantadora. Na FLIP mesmo, quase não entrei: fiquei mais nos espaços agregados. A Casa Folha trouxe gente de peso, mas num lugar muito pequeno. Ver Xico Sá foi terapêutico! Ver o [Luiz Felipe] Pondé, uma emoção muito grande! É uma emoção muito grande você ver quem você lê! Ainda mais eu, que sou folhista pra caramba!" Para ela, apesar do espaço pequeno ― tão pequeno, que as pessoas estavam até mesmo sendo barradas ― "o pessoal estava circulando bem, não me senti sufocada, nem nada! Apesar de todo o peso da FLIP, essa foi uma experiência pra se repetir novamente. Vale a pena investir: valeu muito a pena!"

Fábio Baldo participou pela terceira vez da excursão da Produção Literária à FLIP: "Gostei do passeio, foi bem interessante. Gosto muito de viajar com esse grupo, o pessoal é muito legal. Não teve problemas entre os participantes. Fizemos novas amizades e mantivemos as velhas amizades."

"Como não compramos convites para as mesas, o interessante foi a oportunidade de explorar as atividades alternativas da FLIP." afirma Sônia Cassoli. "No meu caso, presenciei palestras na Casa Folha, onde pude observar a organização, o perfil dos palestrantes e os temas escolhidos. Senti apenas que a figura e a obra de Graciliano Ramos foram pouco exploradas nessa FLIP. Tendo mais tempo, visitei o Centro Histórico e conheci o artesanato e as artes plásticas locais."


Assim como a nossa época, o evento foi marcado por comentários sobre reivindicações justas. Não visitamos o Forte Defensor Perpétuo desta vez, mas fica para o ano que vem.




Leia também as matérias publicadas no site da Prefeitura Municipal de Araraquara, no portal Sua Cidade e no jornal O Imparcial (nr. 211.430, ano 83, 12/07/2013 p. 14).
Leia as impressões particulares de Victor Costa sobre a expedição deste ano.
Relembre a nossa visita à 10ª FLIP clicando aqui; releia também as crônicas de Murilo Reis, de Wellington Marcolino e de Victor Costa sobre aquela ocasião.

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