A seguir, o texto de nossa colega Néia Souza, escrito a partir da proposta de exercício de composição sobre o tema "saudades do cachorro e do gato".
Reparem na pontuação expressiva, da qual nos falou Menalton Braff.
Ah que saudade do gato Perneta e do cachorro Cotó que
um dia em seus braços ele trouxera para a tristonha menina de cachos dourados
que deixando a solidão de lado vivia a correr pela casa em busca da bola de
meia na boca do cão enquanto o Perneta aguardava ansioso o espera-marido da tia
Antonieta que distraída atirava as colheres ao lixo para desespero de vó
Zuleika que no varal pendurava além da colcha de retalhos coloridos, promessas
sob promessas ao santo casamenteiro, alvo perfeito dos intrusos brincalhões que
adoravam na colcha, esfregar seus focinhos gelados e quando enxotados corriam
para o canteiro de flores para caçar a don’aranha e o grilo falante que
protegidos na mão da menina, espiavam um belo rapaz a colher flores para a
vizinha dengosa, despertando assim o ciúme, da irmãzinha com cachos dourados
que dizia querer, além de gato e cachorro, flores, carinho e atenção, daquele
que um dia convocado, para a guerra partiu, além das fronteiras de uma pátria
que tal como a menina, calou-se, para ao lado da mãe receber, em forma de
notícia, devastadora tristeza que varreu para fora toda a alegria da casa,
todos os espera-maridos que recolheu a colcha para longe dos dois focinhos que
tinham agora em seus alvos, inúmeras don’aranhas e grilos não tão falantes que
saltitavam em um canteiro sufocado por tiriricas a crescerem por toda parte
quase alcançando os degraus que levavam a uma casa vazia, sem móveis, sem tia
Antonieta, sequer vó Zuleika ou menina tristonha. Apenas um gato e um cachorro
que deixados para trás, permaneceram fiéis a uma amizade perfeita nos braços
dos recém casados e futuros moradores.
Leia também o texto de Darci Barelli – Saudade é o que fica… –, composto a partir da
mesma proposta.
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